A puta de Mensa - Woody Allen (1 conto em 3 dias)

Última parte

-A livraria de Hunter College é uma fachada.
-É?
-Como aqueles corretores de apostas que têm fachada de barbearia. Vais ver.
Fiz uma chamada rápida para a sede e depois disse-lhe.
-Tudo bem, filha. Estás safa. Mas deixa-te ficar por estas bandas.
Ela ergueu o rosto para mim, com gratisão.
-Posso arranjar-te fotografias do Dwight Macdonald a ler- disse.
-Fica para a próxima.
Entrei na livraria do Hunter College. O vendedor, um jovem de olhos sensíveis, veio ter comigo.
-Posso ajudar?- disse.
-Ando à procura de uma edição especial de Advertisements for Myself. Parece que o autor mandou imprimir uns milhares com rebordos dourados para os amigos.
-Vou ver.- disse ele- Temos uma linha verde para a casa do Mailer.
Olhei-o fixamente.
-Foi a Sherry que me mandou- disse eu.
-Ah, nesse caso, passe lá para trás- disse. Carregou num botão. Abriu-se uma parede forrada de livros e eu entrei como um cordeirinho nesse trepidante palácio do prazer conhecido por Flossie´s.
Papel de parede vermelho com uns relevos e um décor vitoriano davam o tom. Raparigas pálidas e nervosas, de óculos de aros pretos e cabelo cortado a direito esparramavam-se indolentes em sofás, folheando livros de bolso Penguin Classics, provocantes. Uma loura com um grande sorriso piscou-me o olho, indicou, num aceno de cabeça, um quarto no andar de cima e disse: "Wallace Stevens, hã?" Mas não eram só experiencias intelectuais- também ofereciam experiencias emocionais. Disseram-me que por 50 dólares se podia "ter uma relação sem intimidade". Por 100, a rapariga podia emprestar-nos os seus discos de Bartok, jantar, e depois deixava-nos ficar a vê-la ter uma crise de angústia. Por 150, podia ouvir-se FM com gémeas. Por três notas, tinha-se tratamento completo. Uma judia morena e magrinha fingia ir buscar-nos ao Museu de Arte Moderna, deixava-nos ler a tese de mestrado, metia-se connosco numa discussão de gritos no restaurante Elaine´s sobre a concepção freudiana das mulheres, e depois fingia um suícidio à nossa escolha- o serão perfeito, para alguns. Bela negociata. Grande cidade, Nova Iorque.
-Gostas do que vês? - disse uma voz atrás de mim. Virei-me e de repente dei de caras com o cano de uma .38. Tenho o estômago forte, mas desta vez deu uma volta e tanto. Era mesmo a Flossie. A voz era igual, mas Flossie era um homem. tinha a cara escondida por uma máscara.
-Não vais acreditar- disse ele - mas nem grau académico tenho. Fui expulso por ter más notas.
-É por isso que usas máscara?
-Engendrei um plano complicado para assumir o controlo da New York Review of Books, mas para isso tive de me fazer passar pelo Lionel Trilling. Fui ao México fazer uma operação. Há um médico em Juarez que dá às pessoas as feições do Trilling- e isso tem um preço. e correu mal. Saí de lá parecido com o Auden com a voz da Mary McCarthy.Foi quando comecei a trabalhar à margem da lei.
Muito depressa, antes que ele pudesse primir o gatilho, entrei em acção. Lançando-me para a frente, dei-lhe com o cotovelo na queixada e agarrei na arma, enquanto ele caía para trás. Tombou por terra como um saco de batatas. Ainda estava a choramingar quando a policia chegou.
-Bom trabalho, Kaiser - disse o sargento Holmes. - quando despacharmos este tipo, o FBI quer ter uma conversa com ele.Uma coisita que mete ums jogadores profissionais e um exemplar anotado do Inferno de Dante. Levem-no rapazes
Mais tarde nessa noite, procurei uma antiga cliente minha chamada Gloria. Era loira. Tinha-se formado cum laude. A diferença é que se tinha licenciado em educação fisica.
Soube-me bem.


FIM

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